6 contos de Veshka

#AI #Midjourney

CONTO 01

PRAIA ESCURA

Eu e minha irmãzinha brincávamos na Praia Escura, um lugar onde poucas pessoas gostavam de ir porque o mar era envolto de prédios abandonados, não tinha areia, a água era escura e o céu estava sempre cinza.

Como eu não gosto de cor, não gosto de me queimar no sol e não gosto de pessoas, então essa praia era perfeita pra mim.

As ondas do mar eram bem suaves e não dava pé pra ninguém, a praia já começava funda. Eu tinha de fazer muito esforço para conseguir me mover pela água, pois ela era densa. Por outro lado, minha irmãzinha boiava com tranquilidade, talvez porque ela fosse muito menor que eu. Na verdade, ela não gostava muito de ir para lá, mas me acompanhava para eu não ter de ir sozinha.

Certo dia, ficamos um tempo no mar brincando, dançando, jogando água uma na outra. Não havia ninguém além de nós. Se não fosse por nós ali, seria um silêncio absoluto.

A gente estava brincando, quando passou um cubo azul boiando de uma maneira muito estranha. Ele estava em pé, em cima da água. Peguei o cubo, chacoalhei para ver se havia algo dentro e o lancei para beeeem longe. – Hahahahaha! Tchau cubinho!!

Vira e mexe aparecia alguns objetos estranhos boiando… olhei para minha irmãzinha e ela estava nadando de costas, olhando para o céu. Ela disse: – Aqui é tudo tão igual, tudo com a mesma cor, preto e cinza. Eu respondi: – Por isso que é legal!

De repente começou a relampejar muito e, com medo de tomarmos um raio na cabeça, nadamos até a janela de um dos prédios que estava na altura do mar e entramos. Ficamos olhando do lado de dentro. O mar começou a ficar muito bravo e logo em seguida começou a chover.

Minha irmãzinha ficou com vontade de fazer xixi, então dei a mão pra ela e começamos a procurar um banheiro. Estava tudo muito escuro, fedorento, abandonado, vazio… Mas ainda dava para enxergar as paredes e o chão.

Chegamos num saguão com um teto bem alto e lá estava um pouco mais claro porque havia muitas janelas lá para cima… Tinha uma fila enorme com muita gente sem banho, triste, e grande parte das pessoas eram mais velhas. Perguntei para que era a fila e o rapaz tentou falar qualquer coisa e não conseguiu. Ele estava banguelo e babando muito. Essas pessoas estavam com tecidos marrons enrolados no corpo, capuz e muitos tinham barbas longas. Deviam estar sem comer e sem tomar banho há muito tempo.

Fiquei parada olhando, tentando enxergar onde começava a fila, quando vi uma mulher bem de longe, com um vestido branco nos acenando para chegarmos mais perto. Apertei a mão da minha irmãzinha e fomos até lá. Eu fiquei com um mau pressentimento com relação aquela mulher e extremamente desconfiada. Cheguei perto e ela parecia uma fada, parecia tão boa, tão pura, mas ao menos tempo tão de mentira, tão de plástico… O que ela estava fazendo naquele lugar?

Ela disse: – Essa menininha quer ir ao toalete? Eu disse que sim com a cabeça. E a fada branca de plástico apontou para uma porta cor de rosa do seu lado esquerdo, a uns dez metros de nós. Agradeci com um meio sorriso e andamos até lá. Antes de entrar, olhei para trás para ver se ela estava nos olhando, mas não estava mais lá. Nem ela, nem a fila de pessoas, nem ninguém. Não havia mais nada.

Abri a porta bem devagar, e ainda com as mãos dadas com minha irmãzinha, a coloquei atrás de mim para protegê-la. Uma luz muito forte veio de todas as partes e mal consegui enxergar. Entramos e a porta se fechou sozinha, sumindo em seguida. Sumiu do nada. Não havia mais porta.

A minha irmãzinha abraçou a minha cintura e fechou os olhos. Era extremamente incômodo ficar de olhos abertos, muito pior do que aquela escuridão de antes. Fechei os olhos para conseguir prestar atenção no que havia em volta e pedi para minha irmãzinha não desgrudar de mim e continuar com os olhos fechados.

(…)

Olhos fechados.

Silêncio absoluto.

(…)

Do meu lado direito, sentia uma levíssima brisa que vinha um pouco mais quente que o ar. Do lado esquerdo não havia nada, a temperatura, o ar, o cheiro eram o mesmo. À minha frente, não sei por que, eu tinha a impressão de que estava o mar e atrás, a porta que sumiu. Tentei abrir os olhos para verificar o que senti e não consegui ver nada, tudo muito claro e branco. Eu conseguia ver o chão abaixo de mim, era de cimento, lisinho e cinza.

Decidi então, andar com os olhos semiabertos olhando para baixo e em direção ao lado direito, de onde vinha essa leve brisa. Minha irmãzinha continuava abraçada em mim, com o rosto na minha cintura, se escondendo da luz.

O chão se mantinha na mesma cor, mesma textura, mesmo tudo. Parecia que eu andava, andava e não saia do lugar. Minha irmãzinha não estava mais aguentando de vontade de ir ao banheiro, então, falei para ela fazer xixi no chão mesmo. Ela baixou o maiozinho azul e fez xixi no chão. Era muito ruim, mas não havia outro jeito.

Eu estava detestando tudo aquilo, detesto luz, detesto branco, detesto claridade.

Andamos por mais um tempo e o vento começou a ficar mais forte.

– Irmãzinha! Olha! É uma janela! Está vendo o céu azulzinho? Aguenta correr um pouquinho?

Ela fez cara de triste, então a peguei no colo e corri o mais rápido que consegui.

A janela com o céu aberto ficava maior à medida que a gente chegava perto. E o incômodo da luz clara e do branco diminuía aos poucos.

Quando chegamos a uns 100 metros da janela, paramos para descansar um pouco. Fiquei pensando no que ajudaria essa janela. Parecia que estávamos no alto, era um azul infinito. Como íamos descer da janela? Do mesmo jeito que entramos?

Sentamo-nos no chão e ficamos olhando. O branco que envolvia tudo, por todos os lados e aquela janela perfeitamente quadrada. Falei – Deve estar calor lá fora, depois que sairmos daqui a gente pode voltar para a Praia Escura para brincar mais um pouco. O que acha? Minha irmãzinha sorriu. Ela se sentia segura quando estava comigo, sempre a protegi.

Ficamos uns dez minutos sentadas, descansado. Começamos a cantarolar qualquer coisa até cochilarmos de exaustão.

Acordei de repente.

– Vamos irmãzinha? Já descansamos, né?

Ela fez que sim com a cabeça. Levantamo-nos e seguimos em frente.

Quanto mais a gente chegava próximo a janela, mais ela crescia, mais o azul dominava nossa visão.

Minha irmãzinha, que seguia com o rosto colado a minha cintura, abriu os olhos e perguntou: – Onde estamos? Por que está tudo azul?

– Não sei, parece que estamos dentro de uma sala toda azul, não parece? Ué! Cadê a janela?

Foi quando vi uma sombra do teto vindo em direção a nós. Houve um forte terremoto, um balanço estranho na sala. Não conseguimos nos manter em pé, cada uma foi para um lado da parede. Batemos a cabeça no teto e minha irmãzinha desmaiou. Em seguida, ouvi uma risada assustadora vinda lá de fora:

– Hahahahaha! Tchau cubinho!!

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CONTO 02

ESCOLA DINNER

Naquele dia acordei ansiosa para o meu primeiro treino de natação na escola Dinner.

Cheguei ao ginásio e estavam lá dez meninos e nove meninas. Todos estavam de toucas e óculos, então não consegui ver o rosto e o cabelo de ninguém, apenas a cor de pele e a estatura. Eram todos muito brancos, com pernas bem fininhas e todos mais ou menos com a mesma altura que eu: 1,60m.

Dei um sorriso e disse oi, mas só o professor respondeu.

Acho que minha chegada não foi muito bem-vinda pelos outros alunos…

Se bem que o sorriso do professor foi mais assustador do que reconfortante.

Eu nunca tinha visto uma água tão azul clara e que ao mesmo tempo não deixava ver o fundo da piscina. Parecia infinita. Era uma piscina de 25 metros e não tinha raias. Fiquei olhando para a água e senti uma angústia, parecia que eu não deveria estar ali.

Coloquei o pé na água para sentir a temperatura e estava gostosa.

O treino era divido em duas partes: 1.000 metros de piscina e depois um desafio do dia, uma espécie de brincadeira para descontrair.

Como era meu primeiro dia, eu estava totalmente fora de forma, me esforçando muito para não ser a última a completar as piscinas. Mas fui a última, mesmo assim. Quando terminei, os alunos e alunas pareciam impacientes comigo.

A parte do desafio era uma espécie de pega-pega entre dois times e a primeira pessoa que fosse pega do time oposto viraria o prato principal do jantar. A pessoa pega poderia escolher o número do prato a ser feito com sua carne:

1) Carne com shimeji e alho-poró.

2) Carne com penne mediterrâneo.

3) Carne com arroz oriental e batatas sauté.

No primeiro turno ninguém foi pego, ou seja, meu time não conseguiu pegar ninguém do time oposto.

No segundo turno, fiquei tensa porque o time oposto que viria atrás de nós. Saí nadando pela piscina que já me parecia um mar sem fronteiras, muito azul e límpido.

Passei por um móvel cinza com sete gavetas grandes, como as que se guardam pastas e arquivos e percebi que se eu tirasse uma delas, conseguiria nadar pelo corredor que a gaveta passava, que aliás, era bem longa.

E foi isso que eu fiz. Tirei uma gaveta e nadei para muito longe.

Ninguém me viu, eu estava sozinha.  Vi uma plantinha que era mais ou menos da minha altura e fiquei escondida atrás dela. Faltavam poucos segundos para que o tempo desse desafio acabasse.

Fiquei mergulhada, segurando a respiração. Estava com muito medo, minha impressão é que eu seria o alvo de todos porque era a novata. Mas estava bem segura ali.

Enquanto estava nos meus pensamentos, de repente me vi rodeada por todos os alunos e alunas, 19 pessoas.  Todos, todas e todes estavam sem as tocas e os óculos. Os cabelos eram avermelhados, pareciam que tinham fogo na cabeça por conta da cor e movimento da água. Os olhos eram maiores do que o normal, muito pretos e eles não piscavam. Todos sorriam para mim, com um ar maligno, assustador.

Eles tinham muitos dentes, mais do que se pode imaginar que cabem numa boca.

Nadei rapidamente para cima porque precisava de ar e para pedir ajuda ao professor, mas ele não estava lá.

No final das contas, não tinha para onde fugir e eles me pegaram e me ergueram para fora d’água, como se carregam os jogadores de futebol vencedores. Fiquei até em dúvida se tinha vencido ou perdido no jogo.

O técnico apareceu e disse, “mmm exatamente o que eu estava imaginando comer hoje. Mmmm esse braço gordinho deve ser uma delícia!” Olhou para mim e perguntou: – O que você quer ser? Eu disse friamente, número dois.

– Ok! Carne ao penne mediterrâneo!!!

Eles me abraçavam como se eu tivesse sido premiada por algo, me parabenizando. Até que um deles me deu um soco na cara. Desmaiei e quando acordei estava deitada numa maca ou mesa, não sei bem o que era. Eu estava sonolenta, como se tivesse tomado uma anestesia geral e voltado.

Os próprios alunos eram os cozinheiros e o técnico era o chefe. Estavam com roupas brancas, que mais pareciam de açougueiros ou de médicos do que de cozinheiros.

A cozinha era super refinada, com todos os acessórios, fogões e geladeiras prateadas. Mas ao mesmo tempo parecia uma sala de cirurgia.

Percebi que não sentia nada e, às vezes, acordava e via a cara deles em cima de mim e depois dormia novamente. Quando acordei eu estava com curativos por todo o corpo e não sentia dor.

Me colocaram em um cadeirão como o de bebês, para não cair pelos lados. Havia um prato quadrado e branco com penne ao molho mediterrâneo na minha frente, que parecia bem apetitoso decorado com fios vermelhos parecidos com o cabelo deles.

Jantei e fui em direção a minha casa, lentamente e desequilibrada.

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CONTO 03  

TREM DAS 2H

Saí correndo de casa para pegar o trem das duas, o único trem que ia para lá direto e de graça.

Essa estação era toda sépia, tinha muita poeira, parecia abandonada e o trem antigo. Não havia nada em volta além da plataforma de madeira e o trem.

Minhas amigas estavam me esperando na outra ponta da plataforma, dei sinal para eles e entrei no vagão. O trem era muito extenso. Fui andando em direção ao vagão onde estavam meus amigos… Andei por uma hora, mas não chegava nunca! Foi quando percebi que estava indo na direção errada. Eu já estava exausto de andar, então me sentei um pouco para descansar e cochilei.

Quando abri os olhos havia um gato sentado na minha frente e ele era grande e gordo. Não quis ser visto por ele e me escondi com o capuz da minha blusa.

O gato veio em minha direção, me cheirou, me lambeu, e depois voltou a se sentar na minha frente. Eu fingi que não estava percebendo que ele continuava me olhando.

De repente, o gato se encolheu e foi para o colo de um velhinho que estava sentado ao seu lado. Fiquei aliviado, pois agora ele era tão menor que eu que não poderia me fazer mal algum.

Me levantei e saí engatinhando à procura dos meus amigos.

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CONTO 04

PLUG

Nunca tinha ficado tanto tempo sem meus irmãos. Minha irmãzinha vivia grudada em mim. Meu irmão mais velho era mais independente, mas ainda assim éramos muito parecidos e nos entendíamos só de olharmos. Fazia uns dias que ela havia ido ao seu primeiro dia de aula na natação, numa escola chamada Dinner e ele, a um passeio de trem com os amigos. Desde então, nunca mais os vi.

Fui para o jardim e fiquei muito tempo olhando para um inseto estranho. Ele tinha uma casca dura e dourada, as perninhas bem longas e o rosto era feito de canetinha, assim  ̄ー ̄ . As duas perninhas eram bem estranhas, pareciam pernas daquele pássaro pernilongo ou de avestruz.

Dei ao inseto o nome de Plug. Ele não tinha asas. E ficava a maior parte do tempo parado, de tempos em tempos, ciscava o chão, como as galinhas fazem. De todos os insetos que já observei no jardim, esse era o mais estranho, até porque era dourado.

– Filha! Vem almoçar!

– Já vou, pai!!

– Por que tanta pressa? Come mais devagar senão você vai passar mal.

– Pai, estou em processo de observação, achei um ser muito estranho no jardim.

– Entendi. Cuidado para não se machucar!

– Tá bom! Já comi, tava uma delícia!!

Voltei para o jardim. Não queria perder o Plug de vista. Ele estava lá na mesma posição, só uma coisa que tinha mudado, a sua expressão:

^~^

– Oi Plug! Você estava domindo e agora acordou? hahahaha! Abre o olho! Nossa, detesto essa expressão “abre o olho”, algumas pessoas na rua, gente mal educada, vivem falando isso pra mim.

(Porque falei isso pra ele, droga!)

 

。◕‿◕。

– AAAHHHH!! Você abriu mesmo! Hahahaha!

(Será que ele me entende? Mmmmm)

– Plug, cadê sua família, você está aqui sozinho? Não vejo mais ninguém igual a você…

。◕‿◕。

– Por que você é dourado? É de ouro de verdade?

。◕‿◕。

– Você é desse mundo?

。◕‿◕。

– Humph! Foi coincidência…

O dia foi passando e eu fiquei de olho no Plug…

。◕‿◕。

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。◕‿◕。

。◕‿◕。

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。◕‿◕。

– Será que levo você pra casa? Quer ir?

⊙﹏⊙

– Nossa! Acho que isso foi um não, né?

⊙﹏⊙

Bom, vou pra casa, não saia daí!

Naquela noite, fiquei olhando pela janela e havia um ponto de luz muito forte no jardim. Era o Plug.

(Ele veio para iluminar meu jardim…

Que saudade de meus irmãos.)

No dia seguinte, acordei e fui correndo ver o Plug. Para minha surpresa, havia três deles:

@´_`@         ´∀`           ̄ω ̄

Não sabia o que pensar… De onde vieram esses três? Fiquei pensando o que eles comiam. Ficavam ali, numa folha, parados com essas caras esquisitas.  Bom, pelo menos isso respondia minha pergunta: o Plug tinha família!

O jardim de casa não tinha flores, só folhas e todas eram bem verdes, mas vivia cheio de insetos: joaninhas, abelhas, besouros, às vezes cigarras e muitas formigas.

(Aliás, ontem fiquei olhando tanto para o Plug que esqueci dos outros, vou procurá-los).

Andei pelo jardim e não vi nenhum deles, nem as formiguinhas.

(Que estranho).

Voltei para ver o Plug. E os três estavam lá, na mesma posição:

@´_`@      ´∀`        ̄ω ̄

Na verdade, agora não sabia nem quem era o Plug. Só sei que um parecia estar chateado, o do meio sorrindo e o outro dormindo.

(…)

Eles ficavam o tempo todo olhando para o céu. Me deitei olhando para cima também.

(Cinza como sempre, nada de novo.)

Fiquei horas assim, olhando para o céu cinza, observando as nuvens se movendo lentamente…] fiquei imaginando como era viver lá em cima.

– Ah! Uma arraia, olhem Plugs!!!

Quando voltei a olhar para os Plugs…

@´_`@      ´∀`        ̄ω ̄      ´・`    ^◡^     ;,,;

– Ah!!! Apareceram mais!! E cadê a folha onde vocês estavam. Será que vocês comeram?

Naquele momento, eles estavam diretamente na grama, um ao lado do outro. Fui para casa e não falei nada para o meu pai. Queria desvendar esse mistério sozinha.

Fiquei pensando: era um, depois viraram três da noite para o dia e agora, depois de algumas horas já eram seis! E todos com carinhas diferentes! Não existem mais outros insetos e não existe mais a folha da plantinha. Me levantei e fui olhar pela janela se havia luz.

– Havia um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze!!! Doze pontos de luz!!

– Eles se multimplicaram! Queria tanto poder ir até lá, mas meu pai não deixa, disse que a noite é perigoso sair de casa, será que conto para ele?

Dormi.

No dia seguinte, tomei o café da manhã tão quieta que meu pai até desconfiou. Eu perguntei, quando que meus irmãos voltavam, ele disse que não sabia.

– Pai, tem uma coisa muito estranha no jardim. São uns insetos com carinhas e a noite eles brilham. Vem ver?

Meu pai foi comigo até o jardim e os Plugs não estavam mais lá. Expliquei para ele como eles apareceram e que mudavam de expressão e ele disse que nunca tinha ouvido falar em nada parecido.

Fiquei chateada, porque parecia que eles queriam algo. Naquele dia fiquei brincando a tarde toda dentro de casa.

À noite olhei para janela e havia 24 pontos brilhantes.

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Quando acordei, não tinha nada no jardim, apenas um gatinho gorducho. Ele veio até mim, me lambeu e eu decidi adotá-lo.

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CONTO 05

O MAR DE DENTRO

Depois que meus irmãos sumiram e nunca mais voltaram para casa, meu pai enlouqueceu e fomos morar no centro da cidade. Naquela noite, as ruas estavam vazias, eu estava usando o vestido azul, cor preferida de minha irmã.

Olhei para cima e o céu estava turbulento, do jeito que gosto, com arraias, baleias, peixes, tubarões e caravelas se movimentando intensamente. Fiquei um tempo apreciando, pois adoro ver as caravelas, águas-vivas se movimentando, tão livres, tão moles, tão cheias de água…

Fui andando em direção da casa, sem tirar os olhos do céu.  Quando cheguei, meu pai estava lendo o seu jornal, com as pernas cruzadas, encurvado na única cadeira da sala. Nada nele se movia, somente os seus olhos, lendo, lendo, lendo.

Eu disse – Oi, pai!

Meu pai era careca, tinha olhos grandes e uma testa que sempre estava franzida, de quem está pensando, desconfiado de algo. Ele me olhou irritado e ao mesmo tempo sereno, como se houvesse duas pessoas em uma e não disse nada.

A sala de casa era toda feita de janelas de vidro, não havia paredes de concreto, portanto parecia ser possível ver tudo de dentro para fora e de fora para dentro. Construímos assim para podermos ver o céu e o mar, dia e noite.

Eu pedi para meu pai arrumar o vidro do teto que estava quebrado, e imediatamente ele começou a subir pelos blocos de vidro, como uma aranha. Ele tinha esse dom de adquirir formas estranhas. Subiu muito rápido. Jogou uma teia no buraco que logo em seguida virou vidro e estava tudo consertado.

Eu abri um sorriso e agradeci.

Meu pai me olhou e voltou a ler seu jornal.

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CONTO 06
UMA

A respiração está forte hoje.

Eu abri a porta amarela e subi as longas escadas abaixo até chegar ao castelo.

Me deitei na cama vermelha e senti tudo pulsar mais alto do que a respiração.

As coisas se moviam de lugar quando eu me sentia assim.

Essa tontura…

Decidi então, me levantar e saí pela porta azul.

Fui parar no jardim interno onde não paravam de cair lágrimas. Havia muito sofrimento e dor.

Eu me deitei de bruços no chão e abracei a grama verdinha, como quem abraça o mundo, com os braços e as pernas.

Assim…

E fiquei do mesmo jeito por muito tempo. Veio um respiro profundo seguido de um silêncio de alívio. Dormimos abraçadas.